20100226

SÓ EXISTEM RAZÕES BOAS.

20100214

Para ti.


Por tudo o que talvez baste,
(concerteza vai chegar)
Fiz a tua mais nova flor
A predilecta, a tua.

Corri a rua sem medo
Para encontrar a luxúria,
Mas do que eu estava atrás
Da tua mão aqui fechada.

Onde tu moras pode ser mais perto,
Perto daqui, mesmo onde está a glória
nossa.

20100212

Caro tempo.


Não me apetece mais falar contigo lenço,
Estás no lado largo da minha e tua casa.
Passo ao lado do rio, em busca de sorte
Que iguale a tua, Rei. Quais lágrimas caídas,
Tempo velho, passado, tenho inveja tua,
Olhar por entre céus mil, dores de outrém,
Vagabundo, sinistro, rebelde,
Lá fechado e dormente, escondido.

Anda comigo até ao fundo da loucura
Minha, onde é natural sofrer em amargo
Desgosto, raiva controlada, pura
Sonolência que tão vaga é, inocente,
Escapa-me por largos passos, reles estrada
Tão suicida, foi dar-te à luz torto.
Flamingo, que faminto de honesto carvão,
Empurra a pobre rosa por baixo da porta,
Deixa soar os ecos caros, que rasgos
Marginais de tal hora caída,
Escorreram por mim fora, livres
De qualquer taciturna das sortes.

Desci por outra escada, com vontades mil,
Perseguindo tal fogo eterno, morte atrás.
Todas as noites risos, agudos falsetes,
Choro, essa ruína guardada no peito
Fechado de um seguro corte recto na alma,
No círculo perdido dos sem lei, guardado.
Sou confuso, rasteiro, nem grito
Porque não o consigo acabar.

São rudes, minhas vidas, ocultas e rápidas.
Perco-as em soturnas jogadas baratas
Que pouco temem a leis fáceis, claro.
Escondo-me por entre sombrios carácteres,
Sem ter pena da troça que tentam dirigir
A minhas marcas, que tão limpas, castas,
Que são toda essa arte nova e verdadeira,
Mostram meus olhos graves e contempladores,
A prova única, sonata inglória.
E então? Vamos, cuspam! Repete
O relógio teu toque final.
Morte gráfica, máxima, sim.

Vamos assumir todos tuas badaladas
Felizes. O que viste, cego ou não, perdeu-se.
Todos os dias maus que vem sem ter um medo,
Se fossem como sol nas ondas, que se esquecem
De nome e cor, perder-se-iam, longe.
Fazes sempre por não encontrar meus queixumes,
Por isso me é inútil o discurso pobre.
Abraço, meu amigo, fútil e comprado,
Nem me importa a ganância reles e maldita
Com que me brindas em contínuo, macabro.
Pega na minha mão, supõe, enfim, que já,
Agora, escapei, correndo por destinos
Fora, sabendo tudo, lei fora, um príncipe
Entre mil ampulhetas, lentas, sem ter nexo.
Já imaginas o teu resto cuspido?
Afinal tarde foi, meu rei, chegar
Sem ter fome, vontade, pudor,
Sem a luta, esquema ou verdade;
Fujo com medo, sem o ouvir, p'ra lá,
Onde nervo congela, sem lágrimas,
Onde perco os tempos, sem lágrimas,
Onde calam os deuses, sem lágrimas.

20100210

O Flamingo que comia carvão.


"Leva-me para mais perto,
Mais perto dos teus maus olhos
Negro e pequeno príncipe."
Disse o flamingo faminto,
Isto enquanto lá mirava
Carvão escuro e fumegante.
"Preciso dos teus maléficos,
Sonolentos fogos âmbar,
Crepitante coração,
Corroído meu semblante,
O meu amante esquecido."
Puros, reles e súbitos: chegam os breves.
Suspirei por ti cão, à sombra desses galhos,
Partidos, velhos, podres. No olhar, destruição.
Tomaste-me por teu, tomaste-me por rei,
Decadente, supremo, um totalitário.
Pois eu chego e sou triste, sozinho e senhor.