December.
20091207
20091202
20091201
20091122
20091120
É como levar um estalo e pedir um prego
Ter vidros a derreter o olhar na diagonal
Pousar o pouco ar que consigo inspirar
Numa estante
Ao lado do Werther
A apanhar pó.
Ponto
A seguir
Luz e ferro
Retorcido
A subir
O sangue a escorrer-me por entre os dentes
E os pés arrefecidos pela água que corre por baixo deles
Preciso de dormir ao teu lado
Para saber que ainda me faltam anos
Fechados numa cruz
Ao contrário
Que ridículo.
Há espaço e gelo entre os nossos olhos
Parados para sempre na eterna fórmula harmónica
Do horror de ser de alguém.
Ter vidros a derreter o olhar na diagonal
Pousar o pouco ar que consigo inspirar
Numa estante
Ao lado do Werther
A apanhar pó.
Ponto
A seguir
Luz e ferro
Retorcido
A subir
O sangue a escorrer-me por entre os dentes
E os pés arrefecidos pela água que corre por baixo deles
Preciso de dormir ao teu lado
Para saber que ainda me faltam anos
Fechados numa cruz
Ao contrário
Que ridículo.
Há espaço e gelo entre os nossos olhos
Parados para sempre na eterna fórmula harmónica
Do horror de ser de alguém.
20091119
20091004
20090910
20090904
Olha
Parti um prato.
Esquece.
Como é que a canção começava mesmo?
Não sei.
Olha
Parti um prato
Tinha uma ervilha lá colada
Ficou presa no meio da calçada
E nem sequer sobrou qualquer coisa para rir.
Foram dias
Foi bonito
Foi as 24 horas de Le Mans
Foi o regresso da ordem
Mas lá está
Nunca ninguém punha as mãos no fogo
De qualquer forma.
Bem, obrigado
Boa noite
Godspeed e essas merdas.
Perdi o jogo meu amor
Agora e para sempre.
Parti um prato.
Esquece.
Como é que a canção começava mesmo?
Não sei.
Olha
Parti um prato
Tinha uma ervilha lá colada
Ficou presa no meio da calçada
E nem sequer sobrou qualquer coisa para rir.
Foram dias
Foi bonito
Foi as 24 horas de Le Mans
Foi o regresso da ordem
Mas lá está
Nunca ninguém punha as mãos no fogo
De qualquer forma.
Bem, obrigado
Boa noite
Godspeed e essas merdas.
Perdi o jogo meu amor
Agora e para sempre.
20090730
A menina veio ter comigo
Pediu-me para lhe pagar um gelado
Não tinha trocos no bolso
Fiquei em pânico à espera dela
A menina deu-me a mão
Pediu-me para lhe dar um beijo
Estava cheio de vergonha
Só lhe dei um terno abraço
Perdi o comboio por cinco minutos
Fiquei sentado ao pé da linha a pensar no que não lhe disse
Deitei-me no chão a olhar para o relógio suspenso
E a menina chamou por mim.
Pediu-me para lhe pagar um gelado
Não tinha trocos no bolso
Fiquei em pânico à espera dela
A menina deu-me a mão
Pediu-me para lhe dar um beijo
Estava cheio de vergonha
Só lhe dei um terno abraço
Perdi o comboio por cinco minutos
Fiquei sentado ao pé da linha a pensar no que não lhe disse
Deitei-me no chão a olhar para o relógio suspenso
E a menina chamou por mim.
20090722
20090720
Vício
I
Acordo com uma descida
Em plano recortado
Abro os olhos para te ver em fuga
Deitada na ponta do meu cigarro
E eu
Sem ter como escapar
Abro a janela
E olho para o céu
E olho para o céu
E olho para o céu.
II
Os novos heróis
Dormem horas e horas
No leito manchado de sangue
À espera que chegue o furor da câimbra
E os horrores em escala da mentira em vidro
São todos perfeitos
Cheios de sexo
A tresandar a morte.
III
Onde está o rei?
Foi para debaixo da cama
Com medo da sua lucidez
Que lhe queima as decisões
Que lhe queima as decisões
Que lhe queima as decisões
E obriga o mundo a cair em si.
I
Acordo com uma descida
Em plano recortado
Abro os olhos para te ver em fuga
Deitada na ponta do meu cigarro
E eu
Sem ter como escapar
Abro a janela
E olho para o céu
E olho para o céu
E olho para o céu.
II
Os novos heróis
Dormem horas e horas
No leito manchado de sangue
À espera que chegue o furor da câimbra
E os horrores em escala da mentira em vidro
São todos perfeitos
Cheios de sexo
A tresandar a morte.
III
Onde está o rei?
Foi para debaixo da cama
Com medo da sua lucidez
Que lhe queima as decisões
Que lhe queima as decisões
Que lhe queima as decisões
E obriga o mundo a cair em si.
20090716
Tenho cinco grãos de sal
Pousados no meio da minha vista
Não vejo o tempo
Nem o campo
Só os traços
Apagados
Duma morgue que está vazia
Tenho vento a mais na minha lágrima
Onde estás tu?
Atrás de mim
A supor que eu já esqueci
O que
Ainda é
Eu
Eu
Eu
Sem nada
Sem perceber
Com o sal a escorrer
Pela cara
E nós?
Onde estamos?
Atrás de ti
A supor que somos qualquer coisa
Sem ti
Sem mim
Com as pernas enroscadas no lençol velho
A pensar em razões para chorar
Pedi três
Deram-me duas
E eu fui-me embora
A respirar
Tantas desculpas
Tão pouco tempo
E eu a gastar os olhos
No sal que nem aproveito
Só me doi tudo
Porque não sei o que dizer
Não sei olhar para ti
Diz outra vez
Sou a minha miséria
Tira-me daqui
E agora?
Tenho cinco grãos de sal
Caídos nas minhas mãos
Sou um turista da circulação sem paragem
Tira-me daqui
Tira-me daqui
Tira-me daqui
Estas feridas
São amargas
Só me lamento
Não tenho o que
Dizer.
Ajuda-me, por favor
Estou sem ti
E agora
Nem à minha morte acho graça.
Pousados no meio da minha vista
Não vejo o tempo
Nem o campo
Só os traços
Apagados
Duma morgue que está vazia
Tenho vento a mais na minha lágrima
Onde estás tu?
Atrás de mim
A supor que eu já esqueci
O que
Ainda é
Eu
Eu
Eu
Sem nada
Sem perceber
Com o sal a escorrer
Pela cara
E nós?
Onde estamos?
Atrás de ti
A supor que somos qualquer coisa
Sem ti
Sem mim
Com as pernas enroscadas no lençol velho
A pensar em razões para chorar
Pedi três
Deram-me duas
E eu fui-me embora
A respirar
Tantas desculpas
Tão pouco tempo
E eu a gastar os olhos
No sal que nem aproveito
Só me doi tudo
Porque não sei o que dizer
Não sei olhar para ti
Diz outra vez
Sou a minha miséria
Tira-me daqui
E agora?
Tenho cinco grãos de sal
Caídos nas minhas mãos
Sou um turista da circulação sem paragem
Tira-me daqui
Tira-me daqui
Tira-me daqui
Estas feridas
São amargas
Só me lamento
Não tenho o que
Dizer.
Ajuda-me, por favor
Estou sem ti
E agora
Nem à minha morte acho graça.
20090705
Fecha a porta.
Estou cansado das horas que não passam devagar.
Estou cansado de ter de suportar a tua cruz.
Deixa-me fechar os olhos e perder a cabeça.
Arranhei os meus olhos quando te estava a coçar de lá para fora,
Perdido numa insuportável ressaca da vida.
Pousou um melro à janela e contou-me que tu me odeias,
Lembro-me lá eu,
Histórias.
Fecha a puta da porta.
Estou cansado.
Não me deixes aqui assim,
Pelo menos tem a decência de me comprar qualquer coisa,
Não tenho ao que me agarrar.
"Foi assim, percebe?
Não. Ainda estou vivo."
Estou cansado das horas que não passam devagar.
Estou cansado de ter de suportar a tua cruz.
Deixa-me fechar os olhos e perder a cabeça.
Arranhei os meus olhos quando te estava a coçar de lá para fora,
Perdido numa insuportável ressaca da vida.
Pousou um melro à janela e contou-me que tu me odeias,
Lembro-me lá eu,
Histórias.
Fecha a puta da porta.
Estou cansado.
Não me deixes aqui assim,
Pelo menos tem a decência de me comprar qualquer coisa,
Não tenho ao que me agarrar.
"Foi assim, percebe?
Não. Ainda estou vivo."
20090623
Suponho que
Não me tenhas perguntado as horas
Só por acaso
Só por acaso
Só por acaso
Temia ter de enfrentar
Talvez um olhar escorrido
Ou uma fuga por um corredor
Que se estreite
Mas então
Para onde estamos a olhar afinal?
Olha a tua mão
Está encostada à minha
E nós não sabemos sequer porquê
Mas assim é tudo tão mais bonito
Suponho então
Que nada disto aconteça
Só por acaso
Só por acaso
Só por acaso.
Não me tenhas perguntado as horas
Só por acaso
Só por acaso
Só por acaso
Temia ter de enfrentar
Talvez um olhar escorrido
Ou uma fuga por um corredor
Que se estreite
Mas então
Para onde estamos a olhar afinal?
Olha a tua mão
Está encostada à minha
E nós não sabemos sequer porquê
Mas assim é tudo tão mais bonito
Suponho então
Que nada disto aconteça
Só por acaso
Só por acaso
Só por acaso.
20090606
Cocaine Fueled Mutual Masturbation Matinée
I
She gave me poppy scented dior branded diamonds. Snow.
All I knew was how to raise my arm, trying to disagree.
No love was lost when redundancy took over, we yelled
And no one came, no one tried. We were losing.
I silently ripped my clothes until nothing was left,
Expecting the colours of the world to change, at least.
Laying the broken glasses of the ancient tears, patiently,
She took the snow up to the big room, then the small room,
Until we all left, couldn't know each other, never met.
The eyes had dried, although occasionally dropping a tear
Or two. Little flames sparked and the fog was right outside.
The sheets, like empty shells, were still warm from any,
In fact, every madness that took place amongst them.
I blinked twice and gazed with utter bewilderment at her.
She knew better than this. Why would her eyes come across mine
When we both knew the poison was hot and its fire would burn,
Merciless, our pain and our fear, until we became shadows.
I simply turned my eyes all around and ran from the scene.
Every year had passed as if all was the same, like frozen
Pictures. When it began I'd think it did make sense, at least
From our point of view. When I finnally realized we couldn't age
It was already too late for me to love anyone. We were all dying,
Albeit staying immortal, due to our extreme excesses.
When I noticed the shaking grip of her pale hands in my slim leg,
The erotic pleasure of having a soul right in the palm of your hand,
A bolt of terror blazed right across my fearful mind:
We knew better than this, we had to dream another nightmare.
II
A thousand footsteps were heard when he came, cloaked and weary,
To warn all the sleeping corpses of the second holy turning.
Clearly I wasn't sober for a long time, I can't even recall how long,
So everything seemed quite obvious and dangerous at the same time.
I simply turned back to a mirror, just to know if I still could see.
He had come with a long list of promises, all equally absurd and,
Although quite beautiful, monstrously deformed from their original
Form. Doubt started to take over me and I ran once again, to oblivion
And beyond. Glass shards running through my veins, I couldn't cry.
The songs he used to play were always old and unstructured, weirdly,
So I could never quite follow them, or even his hands, while his ego,
Clearly detached from our reality, pressed his finger against my lips
And made me feel as if nothing else was actually happening around us.
It didn't matter, in fact, for the mellow tar was still dripping,
patiently slow, covering the walls around my fearful descents into
The fair obscurity of living and not caring. Many times I felt his
Desire to make us all his, at least in heart, but I didn't respond
To this red spell, I just closed my eyes and fell over the concrete.
All the ages that passed without recognizing him as a savant,
Despite his many attempts for us to do so, silently turned darker,
But we didn't worry, hand in hand with the flies, we craved for night
To come. It did come, cloaked in a silk robe made of stars and desire,
It pulled us into ourselves, until our hands were all together and
Kissed each other as if no soul mattered and the candles weren't lit.
Pieces of broken nails started raining over our ears, and we knew,
For once, that time had come and we could never be saved from him.
We forgot, it didn't matter for our enslaved minds.
III
The mirror had shrunk from excessive vanity being thrown at him.
Rust had climbed its watery surface, my eyes separated by a crack,
Saw her body gliding from one door to another, like a swan
Crossing a lake in the night. Hipnotized, I whispered some half-word,
Uncertain of its meaning. She came to me in a single step, deadly,
Felt her freezing breath wandering around my neck in circles.
Legs tied together, the mirror fell and became a million shards.
Once again, I knew she was still alive because of the soft touch
Of her hair, wandering around my neck in circles.
I was standing on the enormous steel blade used by the butchers
In the old days. With a cigarette hanging from my mouth,
I danced with her the music of concrete buildings, suspension,
Distant sounds locked around images of cages and cracked teeth,
Our arms feeling rather tired and our bodies ill with all those aches
Crawling about. The mansion was only twenty steps away, hidden,
And we picked flowers and laughed all the way. Time.
I stopped and looked at the arches in front of the doorway,
Rain pouring softly over the echoing stones, dirty.
The painful sound of nails across a chalkboard were heard, loud, mad,
Across the seven floors and seventeen chambers of the decadent castle.
His eyes were all over our pale bodies. He picked up all diamonds
From the carpet. Kept them in his sacred pocket, away from light.
We knew he was there, we didn't move a single toe, mad with fear.
The sound of his indecisive steps came closer to my head,
My hands shaking, his touch across my hair, uncovering my gaze.
Picked her hand under the silk and stood up, she did the same.
Walked out of the room without ever looking at his fallen tears.
IV
Riding, riding, riding a secret pool of fog, turning fainted girls
Into lazy little boys, wearing fake moustaches and guilty looks,
That moment came and I just picked up a knife and took the bad hair
Away from me. My lungs were all sick and twisted from breathing them,
Those lazy little boys. I used to kiss them goodbye, never thinking,
Not even for a single moment, that they would miss my fake smiles.
Roses ripped apart in my cut hands, silence right behind me,
Another century passed right in front of my forgotten eyes,
I was all over needs, breakfast wounded. The purge of no one.
Her foot was lying on my shaking lap, while I paused to think,
Not much, while circles of ash formed on the back of my hand.
That hedious looking scar was all over the room, although far away in
Some dark measured cabinet. Her lips were moving and forming words,
Couldn't care less, kissed her and continued enjoying the grey clouds
And the black birds, and the fading sound of old music, far away in
Some dark measured cabinet. She stared without innocence, gods,
Or anything pityful that allowed me to hate her.
I locked my tears inside a little box and left the garden.
A coffin. My legs crossing the space between hers, pale skin burning,
The smell of all those human beliefs dancing over our dizzy heads.
I asked for another glass of something, wrote another line of pure
Nothing. A yawning hit on the thirty seventh cigarette made me laugh.
Standing outside the glass room, I counted the cars that passed,
Unaware of the ominous presence on my side, my dying consciousness.
I came back inside, took her by the hand and walked to the center
Of the ill lit room, gently curved my back and seriously asked for a
Last dance. Her eyes were out, the glass broke and I shook my head out.
I
She gave me poppy scented dior branded diamonds. Snow.
All I knew was how to raise my arm, trying to disagree.
No love was lost when redundancy took over, we yelled
And no one came, no one tried. We were losing.
I silently ripped my clothes until nothing was left,
Expecting the colours of the world to change, at least.
Laying the broken glasses of the ancient tears, patiently,
She took the snow up to the big room, then the small room,
Until we all left, couldn't know each other, never met.
The eyes had dried, although occasionally dropping a tear
Or two. Little flames sparked and the fog was right outside.
The sheets, like empty shells, were still warm from any,
In fact, every madness that took place amongst them.
I blinked twice and gazed with utter bewilderment at her.
She knew better than this. Why would her eyes come across mine
When we both knew the poison was hot and its fire would burn,
Merciless, our pain and our fear, until we became shadows.
I simply turned my eyes all around and ran from the scene.
Every year had passed as if all was the same, like frozen
Pictures. When it began I'd think it did make sense, at least
From our point of view. When I finnally realized we couldn't age
It was already too late for me to love anyone. We were all dying,
Albeit staying immortal, due to our extreme excesses.
When I noticed the shaking grip of her pale hands in my slim leg,
The erotic pleasure of having a soul right in the palm of your hand,
A bolt of terror blazed right across my fearful mind:
We knew better than this, we had to dream another nightmare.
II
A thousand footsteps were heard when he came, cloaked and weary,
To warn all the sleeping corpses of the second holy turning.
Clearly I wasn't sober for a long time, I can't even recall how long,
So everything seemed quite obvious and dangerous at the same time.
I simply turned back to a mirror, just to know if I still could see.
He had come with a long list of promises, all equally absurd and,
Although quite beautiful, monstrously deformed from their original
Form. Doubt started to take over me and I ran once again, to oblivion
And beyond. Glass shards running through my veins, I couldn't cry.
The songs he used to play were always old and unstructured, weirdly,
So I could never quite follow them, or even his hands, while his ego,
Clearly detached from our reality, pressed his finger against my lips
And made me feel as if nothing else was actually happening around us.
It didn't matter, in fact, for the mellow tar was still dripping,
patiently slow, covering the walls around my fearful descents into
The fair obscurity of living and not caring. Many times I felt his
Desire to make us all his, at least in heart, but I didn't respond
To this red spell, I just closed my eyes and fell over the concrete.
All the ages that passed without recognizing him as a savant,
Despite his many attempts for us to do so, silently turned darker,
But we didn't worry, hand in hand with the flies, we craved for night
To come. It did come, cloaked in a silk robe made of stars and desire,
It pulled us into ourselves, until our hands were all together and
Kissed each other as if no soul mattered and the candles weren't lit.
Pieces of broken nails started raining over our ears, and we knew,
For once, that time had come and we could never be saved from him.
We forgot, it didn't matter for our enslaved minds.
III
The mirror had shrunk from excessive vanity being thrown at him.
Rust had climbed its watery surface, my eyes separated by a crack,
Saw her body gliding from one door to another, like a swan
Crossing a lake in the night. Hipnotized, I whispered some half-word,
Uncertain of its meaning. She came to me in a single step, deadly,
Felt her freezing breath wandering around my neck in circles.
Legs tied together, the mirror fell and became a million shards.
Once again, I knew she was still alive because of the soft touch
Of her hair, wandering around my neck in circles.
I was standing on the enormous steel blade used by the butchers
In the old days. With a cigarette hanging from my mouth,
I danced with her the music of concrete buildings, suspension,
Distant sounds locked around images of cages and cracked teeth,
Our arms feeling rather tired and our bodies ill with all those aches
Crawling about. The mansion was only twenty steps away, hidden,
And we picked flowers and laughed all the way. Time.
I stopped and looked at the arches in front of the doorway,
Rain pouring softly over the echoing stones, dirty.
The painful sound of nails across a chalkboard were heard, loud, mad,
Across the seven floors and seventeen chambers of the decadent castle.
His eyes were all over our pale bodies. He picked up all diamonds
From the carpet. Kept them in his sacred pocket, away from light.
We knew he was there, we didn't move a single toe, mad with fear.
The sound of his indecisive steps came closer to my head,
My hands shaking, his touch across my hair, uncovering my gaze.
Picked her hand under the silk and stood up, she did the same.
Walked out of the room without ever looking at his fallen tears.
IV
Riding, riding, riding a secret pool of fog, turning fainted girls
Into lazy little boys, wearing fake moustaches and guilty looks,
That moment came and I just picked up a knife and took the bad hair
Away from me. My lungs were all sick and twisted from breathing them,
Those lazy little boys. I used to kiss them goodbye, never thinking,
Not even for a single moment, that they would miss my fake smiles.
Roses ripped apart in my cut hands, silence right behind me,
Another century passed right in front of my forgotten eyes,
I was all over needs, breakfast wounded. The purge of no one.
Her foot was lying on my shaking lap, while I paused to think,
Not much, while circles of ash formed on the back of my hand.
That hedious looking scar was all over the room, although far away in
Some dark measured cabinet. Her lips were moving and forming words,
Couldn't care less, kissed her and continued enjoying the grey clouds
And the black birds, and the fading sound of old music, far away in
Some dark measured cabinet. She stared without innocence, gods,
Or anything pityful that allowed me to hate her.
I locked my tears inside a little box and left the garden.
A coffin. My legs crossing the space between hers, pale skin burning,
The smell of all those human beliefs dancing over our dizzy heads.
I asked for another glass of something, wrote another line of pure
Nothing. A yawning hit on the thirty seventh cigarette made me laugh.
Standing outside the glass room, I counted the cars that passed,
Unaware of the ominous presence on my side, my dying consciousness.
I came back inside, took her by the hand and walked to the center
Of the ill lit room, gently curved my back and seriously asked for a
Last dance. Her eyes were out, the glass broke and I shook my head out.
20090605
Método
Foi o que faltou
Método
Não tinha balanço
Soprei para cima do cabelo
Não foi por causa do teu riso
Tremeram os sete dias
A olhar olhar olhar
Haviam dias
Dias e dias
Sem saber bem o que fiz
Sem saber bem o que dizer
Método
Foi o que faltou
A PRESSA E O FUROR
O REGRESSO E O TIMBRE
NÃO TE SABIA TÃO VAZIO
A CORDA E A FEBRE
A ESPERA E A DOENÇA
NÃO TE SABIA TÃO PERTO
Viagens
Sem ter para onde ir
Viagens
Fomos sem falar
Uma palavra que fosse
Já não pensava em morte
Tinha-te comigo
Adeus mar
Foi à tua sombra que me despedi
Foi o que faltou
Método
Não tinha balanço
Soprei para cima do cabelo
Não foi por causa do teu riso
Tremeram os sete dias
A olhar olhar olhar
Haviam dias
Dias e dias
Sem saber bem o que fiz
Sem saber bem o que dizer
Método
Foi o que faltou
A PRESSA E O FUROR
O REGRESSO E O TIMBRE
NÃO TE SABIA TÃO VAZIO
A CORDA E A FEBRE
A ESPERA E A DOENÇA
NÃO TE SABIA TÃO PERTO
Viagens
Sem ter para onde ir
Viagens
Fomos sem falar
Uma palavra que fosse
Já não pensava em morte
Tinha-te comigo
Adeus mar
Foi à tua sombra que me despedi
20090520
Funeral.
I
Foram os sonhos
Foram as mágoas
Sempre soube que o vento
Fosse ele quem fosse
Ia levar o que sobrou daqui
Até outra morada
Até outra morada
Até outra morada
No inverno agreste
No gelo eterno dos sorrisos
Prendemos a calma
Fugiu-nos a voz e o silêncio
Para onde o horizonte ardeu
Sem sabermos como respirar
Ardiam-me os olhos
Fosse como fosse
Parou a alma
AMANHÃ TEMOS DE NOS CONCENTRAR NO FIM DAS IDEIAS
AMANHÃ TEMOS DE SALTAR PARA FORA DO CORPO
ISTO É PARA QUANDO O SANGUE JÁ PAROU DE ESCORRER
ISTO É PARA QUANDO JÁ NÃO FALAMOS E O FUMO FICA DENSO
A LUZ TORNA-SE PENA E O QUE RESTA SÃO OS OLHARES CHEIOS DE DOR
AMANHÃ TEMOS DE SER COMO SEMPRE FOMOS
II
Passaram vinte anos
Foi mais uma noite de tremor
Repeti o tremor nas mãos
Como se o meu coração fosse de ferro
Lamento tudo o que tentei
Fossem outros os meus prantos
Mas a lua é nova
E estou só
De novo
ERA UMA E MEIA DA MANHÃ
E EM FRENTE À MINHA CASA
ESTAVA UM PINHAL CHEIO DE NÉVOA
O SOL BRILHAVA
III
Tantas as vezes que me fodeste
Tantas as vezes que me fodeste
Perdão
Tantas as vezes que me fodeste
Que agora sinto-te como arrepios
A falar-me em cada poro
As minhas palavras
Rangidas por entredentes
Gritei as últimas preces
Estava cheio de frio
Vampiro
Ridículo
Ambos presos ao gelar dos nossos rituais
Escapam-se os últimos rastos da passagem
Abres os olhos
Puro
ÍCONES ESCORRIDOS E A LUA ESTAVA COBERTA PELO QUE RESTAVA DAS VELHAS TREVAS
FOI O FIM DO QUE AINDA PODIA SER UM DIA A ÚLTIMA REZA A TI PRÓPRIO
IV
Apagamos as últimas palavras da pedra
No perímetro estamos em caco
No perímetro estamos em caco
No perímetro estamos em caco
Partiram-se as palavras
E repetimos tudo de novo
Como num ritual sem respeito
Estavamos em flor nesses dias
Mas agora somos tudo e não olhamos mais
Agora somos tudo e não sabemos
No limbo
Suspiros de quem está numa jaula
Podias ter parado
Podias ter parado
Podias ter parado
Mas agora apagamos as últimas palavras da pedra
Não temos razão de queixa
Não temos razão de ser
Não te plantam uma papoila na alma
Pensam que tens tudo
Estás vazio e rodeado de névoa
Estás vazio e rodeado de névoa
Estás vazio e rodeado de névoa
Enfrentar o medo
Ridículo como estar dormente
Todas as penas que cumpri
Foram putas
Foram putas
Foram sete anos sem te saber mais perto
Parou o meu relógio
E parei de contar os passos
Que dei para chegar ao centro
V
A pele que arranquei
Ao coçar-me pelo fedor
Ócio, pena, fantasma
Sorriso nos lábios
Sorriso nos lábios
Vómito a escorrer pelo canto do lábio
Ao fugir de outra lágrima
Ao pensar que tenho sede
Tenho os ouvidos a gritar
Escaparam as frases soltas
Que já significaram qualquer merda
Que já significaram qualquer acção
Arrancaram-me a pele
Ao coçarem-me a alma
Tenho pena de mim
Sorriso permanente
Sorriso
APERTARAM A MENINA CONTRA A PAREDE
ATÉ ELA SE ESQUECER QUE ESTAVA LÁ
TIRARAM TUDO O QUE PODIAM
FOI A MAIS BONITA FOTOGRAFIA
DAQUELA FESTA SEM SORRISOS
VI
Mostra o que desenhaste
Uma casa e uma febre
Já esqueci o que querias dizer
Corta-me e vê
Pode ser que encontres a tua sorte
Mostra-me o que tens entre as pernas
Uma febre e tudo mais
Força-me a falar
Pode ser que encontres a tua sorte
Força-me a falar
Força-me a falar
Força-me a falar
O PASSADO É GLÓRIA PISADA PELO ECO
CHEGA DE CONVERSAS E ENTRETANTOS
VII
FUNERAL QUERIDO QUE TANTA SAUDADE DEIXASTE
SUPONHO QUE JÁ NÃO SAIBAS COMO O TEMPO PAROU
Os meus olhos escorreram
Vi uma luz qualquer
Nunca me vendi tanto ao divino
Respiraram-me os ventos gelados
Caí de sono e fome
Irmãos e irmãs do demónio
Somos tão felizes aqui
Somos tão felizes aqui
Somos tão felizes aqui
Acende-me o último cigarro por favor
Os meus olhos escorreram
Estou em vidro
Eu fiz tudo isto por ti
Eu fiz tudo isto por ti
Eu fiz tudo isto por ti
Eu fiz tudo isto por ti
Eu fiz tudo isto por ti
Eu fiz tudo isto por ti
Acabou
I
Foram os sonhos
Foram as mágoas
Sempre soube que o vento
Fosse ele quem fosse
Ia levar o que sobrou daqui
Até outra morada
Até outra morada
Até outra morada
No inverno agreste
No gelo eterno dos sorrisos
Prendemos a calma
Fugiu-nos a voz e o silêncio
Para onde o horizonte ardeu
Sem sabermos como respirar
Ardiam-me os olhos
Fosse como fosse
Parou a alma
AMANHÃ TEMOS DE NOS CONCENTRAR NO FIM DAS IDEIAS
AMANHÃ TEMOS DE SALTAR PARA FORA DO CORPO
ISTO É PARA QUANDO O SANGUE JÁ PAROU DE ESCORRER
ISTO É PARA QUANDO JÁ NÃO FALAMOS E O FUMO FICA DENSO
A LUZ TORNA-SE PENA E O QUE RESTA SÃO OS OLHARES CHEIOS DE DOR
AMANHÃ TEMOS DE SER COMO SEMPRE FOMOS
II
Passaram vinte anos
Foi mais uma noite de tremor
Repeti o tremor nas mãos
Como se o meu coração fosse de ferro
Lamento tudo o que tentei
Fossem outros os meus prantos
Mas a lua é nova
E estou só
De novo
ERA UMA E MEIA DA MANHÃ
E EM FRENTE À MINHA CASA
ESTAVA UM PINHAL CHEIO DE NÉVOA
O SOL BRILHAVA
III
Tantas as vezes que me fodeste
Tantas as vezes que me fodeste
Perdão
Tantas as vezes que me fodeste
Que agora sinto-te como arrepios
A falar-me em cada poro
As minhas palavras
Rangidas por entredentes
Gritei as últimas preces
Estava cheio de frio
Vampiro
Ridículo
Ambos presos ao gelar dos nossos rituais
Escapam-se os últimos rastos da passagem
Abres os olhos
Puro
ÍCONES ESCORRIDOS E A LUA ESTAVA COBERTA PELO QUE RESTAVA DAS VELHAS TREVAS
FOI O FIM DO QUE AINDA PODIA SER UM DIA A ÚLTIMA REZA A TI PRÓPRIO
IV
Apagamos as últimas palavras da pedra
No perímetro estamos em caco
No perímetro estamos em caco
No perímetro estamos em caco
Partiram-se as palavras
E repetimos tudo de novo
Como num ritual sem respeito
Estavamos em flor nesses dias
Mas agora somos tudo e não olhamos mais
Agora somos tudo e não sabemos
No limbo
Suspiros de quem está numa jaula
Podias ter parado
Podias ter parado
Podias ter parado
Mas agora apagamos as últimas palavras da pedra
Não temos razão de queixa
Não temos razão de ser
Não te plantam uma papoila na alma
Pensam que tens tudo
Estás vazio e rodeado de névoa
Estás vazio e rodeado de névoa
Estás vazio e rodeado de névoa
Enfrentar o medo
Ridículo como estar dormente
Todas as penas que cumpri
Foram putas
Foram putas
Foram sete anos sem te saber mais perto
Parou o meu relógio
E parei de contar os passos
Que dei para chegar ao centro
V
A pele que arranquei
Ao coçar-me pelo fedor
Ócio, pena, fantasma
Sorriso nos lábios
Sorriso nos lábios
Vómito a escorrer pelo canto do lábio
Ao fugir de outra lágrima
Ao pensar que tenho sede
Tenho os ouvidos a gritar
Escaparam as frases soltas
Que já significaram qualquer merda
Que já significaram qualquer acção
Arrancaram-me a pele
Ao coçarem-me a alma
Tenho pena de mim
Sorriso permanente
Sorriso
APERTARAM A MENINA CONTRA A PAREDE
ATÉ ELA SE ESQUECER QUE ESTAVA LÁ
TIRARAM TUDO O QUE PODIAM
FOI A MAIS BONITA FOTOGRAFIA
DAQUELA FESTA SEM SORRISOS
VI
Mostra o que desenhaste
Uma casa e uma febre
Já esqueci o que querias dizer
Corta-me e vê
Pode ser que encontres a tua sorte
Mostra-me o que tens entre as pernas
Uma febre e tudo mais
Força-me a falar
Pode ser que encontres a tua sorte
Força-me a falar
Força-me a falar
Força-me a falar
O PASSADO É GLÓRIA PISADA PELO ECO
CHEGA DE CONVERSAS E ENTRETANTOS
VII
FUNERAL QUERIDO QUE TANTA SAUDADE DEIXASTE
SUPONHO QUE JÁ NÃO SAIBAS COMO O TEMPO PAROU
Os meus olhos escorreram
Vi uma luz qualquer
Nunca me vendi tanto ao divino
Respiraram-me os ventos gelados
Caí de sono e fome
Irmãos e irmãs do demónio
Somos tão felizes aqui
Somos tão felizes aqui
Somos tão felizes aqui
Acende-me o último cigarro por favor
Os meus olhos escorreram
Estou em vidro
Eu fiz tudo isto por ti
Eu fiz tudo isto por ti
Eu fiz tudo isto por ti
Eu fiz tudo isto por ti
Eu fiz tudo isto por ti
Eu fiz tudo isto por ti
Acabou
20090513
CEGO
SEM PUDOR
TIRA A MÃO
TIRA A MÃO
TIRA A PUTA DA TUA MÃO
NÃO CONSIGO
RESPIRAR O PÓ
O PÓ
SOU MAIS OUTRO
OUTRA ALMA
OUTRA ALMA
OUTRA ALMA
NÃO CONSIGO
RESPIRAR O PÓ
SÓ RESTOS
RESTOS
PÓ
ESTOU AQUI
NÃO CONSIGO
ARRANHAR AS PAREDES
SENTIR O FEDOR
FEDOR
DA TUA MÃO
TIRA A MÃO
TIRA A PUTA DA TUA MÃO
QUERO MAIS
MAIS QUALQUER COISA
MAIS QUALQUER DOR
SEM DORES
NEM SEI
SEM DORES NEM PUDOR
SÓ NERVOS
NERVOS
ESTOU SÓ
SÓ E RUIDOSO
ESTOU SÓ
ANDA CÁ
ANDA CÁ
NÃO ME DEIXES ASSIM
NÃO CONSIGO
FODE-ME OS OUVIDOS
FODE-ME OS OUVIDOS
FODE-ME OS OUVIDOS
PUTA DA MÃO
TIRA A PUTA DA MÃO
ESTOU SÓ
ESTOU EM CONTÍNUO
ESTOU CONTIGO
SÓ E RUIDOSO
NÃO FUGI DE TI
NÃO FUGI
SEM CORRER
SEM CORRER
SOU O FEDOR
DA TUA MÃO
TIRA A MÃO
TIRA A MÃO
QUEIMAM-ME AS OLHEIRAS
DOI O CORAÇÃO
DOI O CORAÇÃO
O CORAÇÃO
ESTOU SEM TI
ESTOU SÓ E SÓ
RUIDOSO
FODE-ME A ALMA
FODE FODE FODE-ME OS OUVIDOS
OS OUVIDOS
FODE-ME O ÓDIO
ÓDIO
SÓ ÓDIO
SÓ E RUIDOSO
FERRUGEM NOS CANOS
FERRUGEM
EU OIÇO OS BARULHOS
MAGOAM O QUE É PURO
EU ESTOU PURO
EU SOU PURO
PURO
EU ESTOU SÓ
EU ESTOU PURO
EU OIÇO AS DORES
EU OIÇO OS PASSOS
A FERRUGEM NOS CANOS
ESTÁ TUDO EM QUEDA
EU OIÇO E MAGOA
MAGOAM O QUE É PURO
TU ÉS PURA
EU SOU PURO
PURO
PURO
FODE-ME OS OUVIDOS
ESTOU SÓ
SÓ E RUIDOSO
ARRANHA-ME OS BRAÇOS
E TIRA-ME O QUE FALTA
TIRA-ME ESTA DOR
ESTA PUTA DESTA DOR
ESTA DOR
ESTOU SEM TI
NÃO SEI O QUE É PURO
ESTOU SEM TI
ESTOU SEM TI
FODE-ME OS OUVIDOS
MAS TIRA A MÃO
TIRA A MÃO
TIRA A PUTA DA TUA MÃO
DE CIMA DO CADÁVER
O MEU CADÁVER
ESTOU SÓ
ESTOU SÓ E RUIDOSO
ESTOU SEM TI
FODE-ME OS OUVIDOS
FODE-ME OS OUVIDOS
ESTÁ TUDO EM QUEDA
TIRA A MÃO
A MÃO
SEM PUDOR
TIRA A MÃO
TIRA A MÃO
TIRA A PUTA DA TUA MÃO
NÃO CONSIGO
RESPIRAR O PÓ
O PÓ
SOU MAIS OUTRO
OUTRA ALMA
OUTRA ALMA
OUTRA ALMA
NÃO CONSIGO
RESPIRAR O PÓ
SÓ RESTOS
RESTOS
PÓ
ESTOU AQUI
NÃO CONSIGO
ARRANHAR AS PAREDES
SENTIR O FEDOR
FEDOR
DA TUA MÃO
TIRA A MÃO
TIRA A PUTA DA TUA MÃO
QUERO MAIS
MAIS QUALQUER COISA
MAIS QUALQUER DOR
SEM DORES
NEM SEI
SEM DORES NEM PUDOR
SÓ NERVOS
NERVOS
ESTOU SÓ
SÓ E RUIDOSO
ESTOU SÓ
ANDA CÁ
ANDA CÁ
NÃO ME DEIXES ASSIM
NÃO CONSIGO
FODE-ME OS OUVIDOS
FODE-ME OS OUVIDOS
FODE-ME OS OUVIDOS
PUTA DA MÃO
TIRA A PUTA DA MÃO
ESTOU SÓ
ESTOU EM CONTÍNUO
ESTOU CONTIGO
SÓ E RUIDOSO
NÃO FUGI DE TI
NÃO FUGI
SEM CORRER
SEM CORRER
SOU O FEDOR
DA TUA MÃO
TIRA A MÃO
TIRA A MÃO
QUEIMAM-ME AS OLHEIRAS
DOI O CORAÇÃO
DOI O CORAÇÃO
O CORAÇÃO
ESTOU SEM TI
ESTOU SÓ E SÓ
RUIDOSO
FODE-ME A ALMA
FODE FODE FODE-ME OS OUVIDOS
OS OUVIDOS
FODE-ME O ÓDIO
ÓDIO
SÓ ÓDIO
SÓ E RUIDOSO
FERRUGEM NOS CANOS
FERRUGEM
EU OIÇO OS BARULHOS
MAGOAM O QUE É PURO
EU ESTOU PURO
EU SOU PURO
PURO
EU ESTOU SÓ
EU ESTOU PURO
EU OIÇO AS DORES
EU OIÇO OS PASSOS
A FERRUGEM NOS CANOS
ESTÁ TUDO EM QUEDA
EU OIÇO E MAGOA
MAGOAM O QUE É PURO
TU ÉS PURA
EU SOU PURO
PURO
PURO
FODE-ME OS OUVIDOS
ESTOU SÓ
SÓ E RUIDOSO
ARRANHA-ME OS BRAÇOS
E TIRA-ME O QUE FALTA
TIRA-ME ESTA DOR
ESTA PUTA DESTA DOR
ESTA DOR
ESTOU SEM TI
NÃO SEI O QUE É PURO
ESTOU SEM TI
ESTOU SEM TI
FODE-ME OS OUVIDOS
MAS TIRA A MÃO
TIRA A MÃO
TIRA A PUTA DA TUA MÃO
DE CIMA DO CADÁVER
O MEU CADÁVER
ESTOU SÓ
ESTOU SÓ E RUIDOSO
ESTOU SEM TI
FODE-ME OS OUVIDOS
FODE-ME OS OUVIDOS
ESTÁ TUDO EM QUEDA
TIRA A MÃO
A MÃO
20090510
Coisas que se escrevem de calças justas.
I
Lembro-me de quando não tinha para onde olhar. Foi como se tudo estivesse no centro duma mesa e fizesse sentido. Lembro-me de ter tudo.
Saí de casa naquele dia. Não queria voltar mais. Só tinha um cigarro comigo, mas podia sempre pedir a um estranho qualquer. Caminhei o mais que pude sem pensar, o que deu para pouco. Tomei dois valiums para continuar. Não resultou.
Sentado num banco qualquer raspei a nódoa que tinha no casaco contra um parafuso solto. As meninas passavam e eu olhava para o rabo delas, sem pensar muito no que isso queria dizer. Deitei-me e olhei para o sol com esperança de ver um pássaro que não me cagasse em cima. Tive sorte. Revirei os olhos e não aguentei mais o peso daquela velha ressaca. Vomitei tudo o que tinha num balde do lixo que por acaso se encontrava ao meu lado. Caí para o chão e um senhor veio ter comigo para me mandar embora. E eu fui.
As lojas estavam todas fechadas. Que dia tão aborrecido. Deixei cair uma moeda ao chão e ao baixar-me para a apanhar caíram-me também os óculos de sol. Deus, que dia tão aborrecido. Apanhei tudo e lá fui eu em direcção à casa de alguém.
Entrei na casa dos amigos com um grande alarido. O espectáculo do costume. Só me faltava pôr uma máscara. Deixei-me caír numa cama enquanto tocava uma canção sobre corações partidos, cheia de ironia, e nós a ouvirmos aquilo duma forma impossivelmente mais irónica. Que ridículo.
As horas que passaram, cheias de fumo e anedotas sem graça, resumiram-se a mais um dia sem propósito. Fugimos da rotina. Cheios de medo e fome, corremos as ruas em busca do horror de existir. E ela não me saía da cabeça. Precisava de mais um valium.
II
Doíam-me tanto os olhos por causa daquele maldito ambiente que eu amava. As silhuetas torturadas dos dançarinos macabros davam-me o tesão que eu tanto precisava para me sentir no inferno. O ruído, o toque, o suave ardor nas minhas narinas e a doce dor de ser empurrado pela multidão. Perdi então a vontade de ser eu.
O meu telefone tocou, uma e outra vez, cheio de fúria. Não quis saber. Chamei-a para mim e repeti um automatismo sentimental ao ouvido dela. Deu-me o maior dos apertos no meu fraco coração. Nunca me tinha sentido tão perdido. Empurrei a noite para dentro do fundo de mais um copo e caminhei a passos largos e amedrontados para a rua sinistra. Era eu e mais ninguém.
Tirei o último cigarro do bolso e lá o acendi com mãos trémulas. A minha alma, cheia de câncros duvidosos, doía como nunca.
Acordei cheio da doença. Não, era só uma ligeira dor de cabeça e qualquer vulgar tontura. Que horror matinal. Cocei a cabeça e pensei um pouco. Com tanta emoção já me tinha desabituado. Cambaleei até à janela e comi uma bolacha.
I
Lembro-me de quando não tinha para onde olhar. Foi como se tudo estivesse no centro duma mesa e fizesse sentido. Lembro-me de ter tudo.
Saí de casa naquele dia. Não queria voltar mais. Só tinha um cigarro comigo, mas podia sempre pedir a um estranho qualquer. Caminhei o mais que pude sem pensar, o que deu para pouco. Tomei dois valiums para continuar. Não resultou.
Sentado num banco qualquer raspei a nódoa que tinha no casaco contra um parafuso solto. As meninas passavam e eu olhava para o rabo delas, sem pensar muito no que isso queria dizer. Deitei-me e olhei para o sol com esperança de ver um pássaro que não me cagasse em cima. Tive sorte. Revirei os olhos e não aguentei mais o peso daquela velha ressaca. Vomitei tudo o que tinha num balde do lixo que por acaso se encontrava ao meu lado. Caí para o chão e um senhor veio ter comigo para me mandar embora. E eu fui.
As lojas estavam todas fechadas. Que dia tão aborrecido. Deixei cair uma moeda ao chão e ao baixar-me para a apanhar caíram-me também os óculos de sol. Deus, que dia tão aborrecido. Apanhei tudo e lá fui eu em direcção à casa de alguém.
Entrei na casa dos amigos com um grande alarido. O espectáculo do costume. Só me faltava pôr uma máscara. Deixei-me caír numa cama enquanto tocava uma canção sobre corações partidos, cheia de ironia, e nós a ouvirmos aquilo duma forma impossivelmente mais irónica. Que ridículo.
As horas que passaram, cheias de fumo e anedotas sem graça, resumiram-se a mais um dia sem propósito. Fugimos da rotina. Cheios de medo e fome, corremos as ruas em busca do horror de existir. E ela não me saía da cabeça. Precisava de mais um valium.
II
Doíam-me tanto os olhos por causa daquele maldito ambiente que eu amava. As silhuetas torturadas dos dançarinos macabros davam-me o tesão que eu tanto precisava para me sentir no inferno. O ruído, o toque, o suave ardor nas minhas narinas e a doce dor de ser empurrado pela multidão. Perdi então a vontade de ser eu.
O meu telefone tocou, uma e outra vez, cheio de fúria. Não quis saber. Chamei-a para mim e repeti um automatismo sentimental ao ouvido dela. Deu-me o maior dos apertos no meu fraco coração. Nunca me tinha sentido tão perdido. Empurrei a noite para dentro do fundo de mais um copo e caminhei a passos largos e amedrontados para a rua sinistra. Era eu e mais ninguém.
Tirei o último cigarro do bolso e lá o acendi com mãos trémulas. A minha alma, cheia de câncros duvidosos, doía como nunca.
Acordei cheio da doença. Não, era só uma ligeira dor de cabeça e qualquer vulgar tontura. Que horror matinal. Cocei a cabeça e pensei um pouco. Com tanta emoção já me tinha desabituado. Cambaleei até à janela e comi uma bolacha.
20090509
Câncro
Não tenho medo
Suponho eu
Tenho frio
Estou morto
Carta feia
Já beijei cem milhões de pessoas
E nenhuma me soube a mar
Não tenho fome
O tempo parou
E eu caí
Nem sei como não chorar
Lembro-me do teu dia
Foi como outro qualquer
E nada
Foi a última foda que te calhou
Nem sei porque é que a tiraste
Já mataste cem milhões de putas
E nenhuma te soube amar
Sou tão pós-moderno
Olhem para mim
Não tenho vontade
Já não me apetece
Nem acredito que isto passe por ritmo
Suponho eu
Mas já não tenho frio
E nem de morto consigo fingir
Epopeia, epopeia
Do nada e do cagar
Estou cansado como de costume
Vou fumar outro cigarro
E apagar a ponta nos meus olhos
Sei que assim vou chorar sangue
E impressionar a minha namorada
Ahah
Nada
Sinto todas as tuas feridas de merda
A arruinar o meu ambiente pútrido favorito
Quem se mete em tudo também se mete em ti
Não é?
Olhem para ela
Está cheia de sexo
Arranha-me com sangue
Estou cheio de dores
Ahah
Nada
Espera dois segundos
Já que partes cem milhões de janelas
Por cada lágrima derramada
Então aproveita qualquer coisa
E vai-te foder
Deixa-me em paz
Não sou teu
Não sou meu
Estou cheio de dores
Ahah
Bela merda
Só me saem duques
Ahah
Estamos todos no mesmo barco
Vai-te foder
Vou fumar outro cigarro
E apagar a ponta nos teus olhos
Pode ser que assim vejas
Que estou cheio do teu câncro
E das outras todas também
E não quero saber
Tenho calor
Tenho frio
Sei que quero morrer
Mas estou cheio de frio
E de calor
E isso dá-me preguiça
Prefiro estar assim.
Não tenho medo
Suponho eu
Tenho frio
Estou morto
Carta feia
Já beijei cem milhões de pessoas
E nenhuma me soube a mar
Não tenho fome
O tempo parou
E eu caí
Nem sei como não chorar
Lembro-me do teu dia
Foi como outro qualquer
E nada
Foi a última foda que te calhou
Nem sei porque é que a tiraste
Já mataste cem milhões de putas
E nenhuma te soube amar
Sou tão pós-moderno
Olhem para mim
Não tenho vontade
Já não me apetece
Nem acredito que isto passe por ritmo
Suponho eu
Mas já não tenho frio
E nem de morto consigo fingir
Epopeia, epopeia
Do nada e do cagar
Estou cansado como de costume
Vou fumar outro cigarro
E apagar a ponta nos meus olhos
Sei que assim vou chorar sangue
E impressionar a minha namorada
Ahah
Nada
Sinto todas as tuas feridas de merda
A arruinar o meu ambiente pútrido favorito
Quem se mete em tudo também se mete em ti
Não é?
Olhem para ela
Está cheia de sexo
Arranha-me com sangue
Estou cheio de dores
Ahah
Nada
Espera dois segundos
Já que partes cem milhões de janelas
Por cada lágrima derramada
Então aproveita qualquer coisa
E vai-te foder
Deixa-me em paz
Não sou teu
Não sou meu
Estou cheio de dores
Ahah
Bela merda
Só me saem duques
Ahah
Estamos todos no mesmo barco
Vai-te foder
Vou fumar outro cigarro
E apagar a ponta nos teus olhos
Pode ser que assim vejas
Que estou cheio do teu câncro
E das outras todas também
E não quero saber
Tenho calor
Tenho frio
Sei que quero morrer
Mas estou cheio de frio
E de calor
E isso dá-me preguiça
Prefiro estar assim.
20090415
Outro Mal Qualquer
Foi num dia como este
Entorpecido pelas horas cadentes
Que mudei as minhas vagas ideias
Sou um perdido
Sem sentido
Quis dizer todos os teus nomes
Mas só me lembrei do mais falso
Senti prazer no pequeno insulto
E nem assim me arrependo
Agora afasta-te de mim
Um passo de cada vez
Não olhes para a minha sombra
Esquece a minha marca
Repete depois de mim.
Foi num dia como este
Entorpecido pelas horas cadentes
Que mudei as minhas vagas ideias
Sou um perdido
Sem sentido
Quis dizer todos os teus nomes
Mas só me lembrei do mais falso
Senti prazer no pequeno insulto
E nem assim me arrependo
Agora afasta-te de mim
Um passo de cada vez
Não olhes para a minha sombra
Esquece a minha marca
Repete depois de mim.
Mais, se até eu soubesse onde procurar.
I
Viver do fenómeno
Como se de alimento se tratasse
Tornou-se minha ambição
No decorrer de mais uma madrugada
Contei as horas
Em que te esperei sem querer
Sem vida a que me agarrar
Supondo que
Eventualmente
Me reconhecerías
II
Importei-me uma vez
Com as minhas parcas opções
Sabendo-me só
Escolhi tua companhia
Repetida
Ouvi vezes sem conta
Os ecos sem fundo
Dos gemidos ternos
Das nossas longas horas
Que não eram de mais ninguém
III
Senti
Quando qualquer rumo mudou
Que o mundo me tinha raiva
Por ter parido qualquer dor
Senti
Como se tudo fosse agora
Sem te saber na palma da minha mão
Senti-te junto a mim
Como uma flor que pisei
Ou algum grito que ignorei
IV
Março campestre
Porque me deixas sem pudor?
Lamentamos juntos
Teus ódios, minhas mágoas
Feridas abertas e sabores queimados
Beijei tua alma
Porque te sabia morto
Agora deixa-me
Não quero mais
V
Tracem-me o sexo
Só assim saberei mais qualquer coisa
Que nem falta me faz
Só porque sim
Tomem-me por garantido
Por favor
Não me venham exigir
Tudo o que já dei
Etcetera
Enfim
VI
Boca vermelha
Pálida
Suponho que estejas do meu lado
Não te sinto fria
Não me arrastas pela dúvida
Beijei-te ao hesitar
E agora perco-te
Num delírio qualquer
De triste
De pobre
Sem ter a tua paz
VII
O quão podre preciso estar
(pelo menos meu coração)
Para sucumbir a dúvidas
Eternas
Ai, meu semblante carregado
Que dor tão sem significado
Pobre de espírito
Nojo
Viciado no remoinho constante
Da perpétua renovação da dor
Que é tudo isto
VIII
Liberdade canina
Esta, a de te amar
Toma a minha força
De saber que caí
E perdoa-me inocências
Desespero e vómito
A noite é fantasia
E nós
Nós somos seu fosco reflexo
IX
Bruta eternidade
Que é o compasso de espera
Para o universo me dar fôlego
Desta feliz coincidência
Estou cheio de vontade
De tudo
Até de te foder
Mas não me levanto daqui para tal
Isso seria morrer
E amanhã é outro dia
X
Coroa tão vazia
A que me é atribuída
Pelo pudor
Afastem-se da minha carcaça
Por um ténue segundo
Sem esforços
E vejam o que fizeram da minha luta
Inexistente
Escolheram-na.
I
Viver do fenómeno
Como se de alimento se tratasse
Tornou-se minha ambição
No decorrer de mais uma madrugada
Contei as horas
Em que te esperei sem querer
Sem vida a que me agarrar
Supondo que
Eventualmente
Me reconhecerías
II
Importei-me uma vez
Com as minhas parcas opções
Sabendo-me só
Escolhi tua companhia
Repetida
Ouvi vezes sem conta
Os ecos sem fundo
Dos gemidos ternos
Das nossas longas horas
Que não eram de mais ninguém
III
Senti
Quando qualquer rumo mudou
Que o mundo me tinha raiva
Por ter parido qualquer dor
Senti
Como se tudo fosse agora
Sem te saber na palma da minha mão
Senti-te junto a mim
Como uma flor que pisei
Ou algum grito que ignorei
IV
Março campestre
Porque me deixas sem pudor?
Lamentamos juntos
Teus ódios, minhas mágoas
Feridas abertas e sabores queimados
Beijei tua alma
Porque te sabia morto
Agora deixa-me
Não quero mais
V
Tracem-me o sexo
Só assim saberei mais qualquer coisa
Que nem falta me faz
Só porque sim
Tomem-me por garantido
Por favor
Não me venham exigir
Tudo o que já dei
Etcetera
Enfim
VI
Boca vermelha
Pálida
Suponho que estejas do meu lado
Não te sinto fria
Não me arrastas pela dúvida
Beijei-te ao hesitar
E agora perco-te
Num delírio qualquer
De triste
De pobre
Sem ter a tua paz
VII
O quão podre preciso estar
(pelo menos meu coração)
Para sucumbir a dúvidas
Eternas
Ai, meu semblante carregado
Que dor tão sem significado
Pobre de espírito
Nojo
Viciado no remoinho constante
Da perpétua renovação da dor
Que é tudo isto
VIII
Liberdade canina
Esta, a de te amar
Toma a minha força
De saber que caí
E perdoa-me inocências
Desespero e vómito
A noite é fantasia
E nós
Nós somos seu fosco reflexo
IX
Bruta eternidade
Que é o compasso de espera
Para o universo me dar fôlego
Desta feliz coincidência
Estou cheio de vontade
De tudo
Até de te foder
Mas não me levanto daqui para tal
Isso seria morrer
E amanhã é outro dia
X
Coroa tão vazia
A que me é atribuída
Pelo pudor
Afastem-se da minha carcaça
Por um ténue segundo
Sem esforços
E vejam o que fizeram da minha luta
Inexistente
Escolheram-na.
20090406
20090330
Feio feio
Nada resulta quando somos empurrados
Perdi a conta
Respiram-me na nuca
Cem fantasmas do passado borratado
Não existo sem saber
Nunca fui boa pessoa
Perder
Em qualquer um dos passos
Resultou numa vã esperança
De que tu
Sim
Agora agora agora
Agora não tenho para onde me virar
A não ser um eco qualquer
Do teu reflexo
Larga-me as mãos
Já não sei nada
Nada resulta quando somos empurrados
Perdi a conta
Respiram-me na nuca
Cem fantasmas do passado borratado
Não existo sem saber
Nunca fui boa pessoa
Perder
Em qualquer um dos passos
Resultou numa vã esperança
De que tu
Sim
Agora agora agora
Agora não tenho para onde me virar
A não ser um eco qualquer
Do teu reflexo
Larga-me as mãos
Já não sei nada
20090323
Mon Coeur
Todos os momentos
Que passaram
São apenas restos
De qualquer vazio
Que nunca preenchi
Para ti
E para qualquer alma
Que se perca em mim
Não sei como retribuir
A não ser com palavras velhas
E sentimentos repetidos
A não ser quando te sinto
Perto
Mais perto que nunca
Sem nunca te ter tocado
Lembro-me de ti
Lembro-me de qualquer coisa
Que nem sequer sei se existiu
Agora
Somos nós
E mais nada
És o que me resta
Todos os momentos
Que passaram
São apenas restos
De qualquer vazio
Que nunca preenchi
Para ti
E para qualquer alma
Que se perca em mim
Não sei como retribuir
A não ser com palavras velhas
E sentimentos repetidos
A não ser quando te sinto
Perto
Mais perto que nunca
Sem nunca te ter tocado
Lembro-me de ti
Lembro-me de qualquer coisa
Que nem sequer sei se existiu
Agora
Somos nós
E mais nada
És o que me resta
20090322
Se tudo o que fizesses
Não fosse mais que um momento
Sem pensar em nada
Serias mais que mil sorrisos
E uma e outra vez
Serias mais que qualquer eu
E eu
Perdido em mil inseguranças
Não te sei minha
Mas sei-te proxima de mim
E sei que sou teu
A cada respirar meu
Só consigo imaginar o teu
E não paro de pensar
No teu peito contra o meu
No teu sabor
Na tua presença
Quero-te comigo
Quero-me contigo
Até tudo fazer sentido
Não fosse mais que um momento
Sem pensar em nada
Serias mais que mil sorrisos
E uma e outra vez
Serias mais que qualquer eu
E eu
Perdido em mil inseguranças
Não te sei minha
Mas sei-te proxima de mim
E sei que sou teu
A cada respirar meu
Só consigo imaginar o teu
E não paro de pensar
No teu peito contra o meu
No teu sabor
Na tua presença
Quero-te comigo
Quero-me contigo
Até tudo fazer sentido
20090222
Foram seis visões transformadas em vitral quebrado.
I
Ergo-me lentamente dos sujos lençóis do meu falso túmulo. Abro a cigarreira e retiro lentamente um calmante, que pouso ominosamente nos lábios. Acendo-o numa vela qualquer. Descubro que não sinto nada. Um vazio obscuro apoderou-se de mim. Contemplo a sua figura caída entre vestes e tecidos. Sinto uma onda de repulsa que me leva até ao limiar da náusea. Dirijo-me até à varanda a passos largos. O dia ainda não nasceu. Deixo as costas escorrerem pela porta de vidro, contemplo o arvoredo da entrada e depois o burburinho da rua. Sinto o calor do cigarro na ponta dos meus dedos, atirando-o de seguida em direcção ao pátio de terra batida.
Apressado, pego nas roupas que espalhei pelo aposento, visto-as e retiro-me. Em meia dúzia de passos estou ao pé do portão, em poucos mais estou ao pé da marginal. Não sinto nada.
II
Mais um café aborrecido. Ridicularizando as figuras que passam e dizendo parvoíces, não ligamos ao tempo. Somos jovens.
No meio de uma conversa particularmente superflua, a ingenuidade: «Lamento, mas não compreendi a tua atitude perante a rapariga». Descartável, suja, sem sentido. Lamento eu que não tenho vontade nenhuma de continuar. Parece que nos fartamos de tudo. Eu sei que me farto de tudo. Constantemente.
Mão na perna com ela e qualquer coisa mais. Não me apetece mais isto.
Mais tarde na mansão, meia garrafa de absinto e duas onças de tabaco do mais barato. Trocas de olhares e suposições. Os amigos criticam, não percebem o que quero dizer. Eu não me sei exprimir, escapo-me por pouco com mentiras e falsidades. Não tenho mais nenhum escudo.
Cheio de fantasia, levanto-me num extâse ridículo de ideologias: «Perdi a virgindade com uma puta cheia da doença. Lamento esse facto, mas não lamento o nojo que sentis de mim». Perante o riso que se apoderara dos presentes, eis que pego num copo e arremesso-o com perversidade contra a parede. «Cristal não significa nada. Estamos perdidos neste mar de nada. Não nos reinventamos. Temos medo. Somos tal e qual a multidão».
III
Insónia. Porque é que tenho tanto medo do insucesso? Olhem bem para mim, sou a figura máxima no que toca à representação do síndrome da tristeza. Não tenho força de vontade, sou íncomodo para os próximos. Onde está o meu ego, o que é que eu fiz dele? Costumava ter para onde ir, agora nem sei onde fica a porta da rua.
Lamento imenso tudo o que disse. Lamento imenso tudo o que os fez sentir que eu era outra coisa qualquer. E agora? Perco-me em delírios acerca daquilo que eu cada vez mais sei com certeza: não sou nada mais do que um pobre diabo sem confiança em si próprio. Com muita pena minha, não sou um herói qualquer.
IV
Suponho que faça sentido explicar alguma coisa. Vamos fazer assim: não nasci ontem. Já remoí centenas de vezes os mesmos assuntos. São a única coisa que me interessa e que me mantêm vivo. As inúmeras superficialidades desta existência patética. Convenci-me de imensas coisas, entre as quais um talento inexistente para a expressão criativa e artística. Felizmente a dura realidade mostra-me que sou apenas mais um. De tanto fugir à mediocridade caí mesmo no meio dela. Irónico.
V
«Dá-me um bocado de espaço, preciso de respirar», pensou ela. Idiota, senti o pensamento percorrer-me a espinha num abraço gelado e, ainda assim, continuei. «Não, não pode ser».
Numa qualquer mesa de uma qualquer casa, sentados em cantos opostos. Silêncio. Mando um sorriso desprezívelmente falseado. Minto descaradamente, ajo como um idiota. Resulta. O espaço pode só existir na cabeça dela. Quem é que quer saber? Eu não.
Seguimos então para a noite sem fundo. Durante todo o tempo dá-se um conflito absurdo na minha cabeça: por um lado amo tudo aquilo, por outro mal posso esperar que acabe. Viciado no sofrimento, instintivamente faço por tudo terminar da pior maneira. Lamento.
Nada disto foi feito para funcionar.
VI
Estou cheio de dores. Fiz tudo propositadamente mal. Ou talvez não. Talvez fosse o destino.
Não consigo estar sozinho. Gritos vindos de dentro das paredes empurram-me contra o meu corpo. Sinto um peso imenso na minha cabeça. Preciso de fugir.
Corro pelo cemitério fora. Não estou acordado. Oiço os gritos dela dentro do pulsar do meu coração. Oiço os avisos, as opiniões, as entrelinhas, os sorrisos, os gestos, meu deus, os gestos dentro do meu cadáver. Não sei nada. Não sinto nada. Sou pó.
I
Ergo-me lentamente dos sujos lençóis do meu falso túmulo. Abro a cigarreira e retiro lentamente um calmante, que pouso ominosamente nos lábios. Acendo-o numa vela qualquer. Descubro que não sinto nada. Um vazio obscuro apoderou-se de mim. Contemplo a sua figura caída entre vestes e tecidos. Sinto uma onda de repulsa que me leva até ao limiar da náusea. Dirijo-me até à varanda a passos largos. O dia ainda não nasceu. Deixo as costas escorrerem pela porta de vidro, contemplo o arvoredo da entrada e depois o burburinho da rua. Sinto o calor do cigarro na ponta dos meus dedos, atirando-o de seguida em direcção ao pátio de terra batida.
Apressado, pego nas roupas que espalhei pelo aposento, visto-as e retiro-me. Em meia dúzia de passos estou ao pé do portão, em poucos mais estou ao pé da marginal. Não sinto nada.
II
Mais um café aborrecido. Ridicularizando as figuras que passam e dizendo parvoíces, não ligamos ao tempo. Somos jovens.
No meio de uma conversa particularmente superflua, a ingenuidade: «Lamento, mas não compreendi a tua atitude perante a rapariga». Descartável, suja, sem sentido. Lamento eu que não tenho vontade nenhuma de continuar. Parece que nos fartamos de tudo. Eu sei que me farto de tudo. Constantemente.
Mão na perna com ela e qualquer coisa mais. Não me apetece mais isto.
Mais tarde na mansão, meia garrafa de absinto e duas onças de tabaco do mais barato. Trocas de olhares e suposições. Os amigos criticam, não percebem o que quero dizer. Eu não me sei exprimir, escapo-me por pouco com mentiras e falsidades. Não tenho mais nenhum escudo.
Cheio de fantasia, levanto-me num extâse ridículo de ideologias: «Perdi a virgindade com uma puta cheia da doença. Lamento esse facto, mas não lamento o nojo que sentis de mim». Perante o riso que se apoderara dos presentes, eis que pego num copo e arremesso-o com perversidade contra a parede. «Cristal não significa nada. Estamos perdidos neste mar de nada. Não nos reinventamos. Temos medo. Somos tal e qual a multidão».
III
Insónia. Porque é que tenho tanto medo do insucesso? Olhem bem para mim, sou a figura máxima no que toca à representação do síndrome da tristeza. Não tenho força de vontade, sou íncomodo para os próximos. Onde está o meu ego, o que é que eu fiz dele? Costumava ter para onde ir, agora nem sei onde fica a porta da rua.
Lamento imenso tudo o que disse. Lamento imenso tudo o que os fez sentir que eu era outra coisa qualquer. E agora? Perco-me em delírios acerca daquilo que eu cada vez mais sei com certeza: não sou nada mais do que um pobre diabo sem confiança em si próprio. Com muita pena minha, não sou um herói qualquer.
IV
Suponho que faça sentido explicar alguma coisa. Vamos fazer assim: não nasci ontem. Já remoí centenas de vezes os mesmos assuntos. São a única coisa que me interessa e que me mantêm vivo. As inúmeras superficialidades desta existência patética. Convenci-me de imensas coisas, entre as quais um talento inexistente para a expressão criativa e artística. Felizmente a dura realidade mostra-me que sou apenas mais um. De tanto fugir à mediocridade caí mesmo no meio dela. Irónico.
V
«Dá-me um bocado de espaço, preciso de respirar», pensou ela. Idiota, senti o pensamento percorrer-me a espinha num abraço gelado e, ainda assim, continuei. «Não, não pode ser».
Numa qualquer mesa de uma qualquer casa, sentados em cantos opostos. Silêncio. Mando um sorriso desprezívelmente falseado. Minto descaradamente, ajo como um idiota. Resulta. O espaço pode só existir na cabeça dela. Quem é que quer saber? Eu não.
Seguimos então para a noite sem fundo. Durante todo o tempo dá-se um conflito absurdo na minha cabeça: por um lado amo tudo aquilo, por outro mal posso esperar que acabe. Viciado no sofrimento, instintivamente faço por tudo terminar da pior maneira. Lamento.
Nada disto foi feito para funcionar.
VI
Estou cheio de dores. Fiz tudo propositadamente mal. Ou talvez não. Talvez fosse o destino.
Não consigo estar sozinho. Gritos vindos de dentro das paredes empurram-me contra o meu corpo. Sinto um peso imenso na minha cabeça. Preciso de fugir.
Corro pelo cemitério fora. Não estou acordado. Oiço os gritos dela dentro do pulsar do meu coração. Oiço os avisos, as opiniões, as entrelinhas, os sorrisos, os gestos, meu deus, os gestos dentro do meu cadáver. Não sei nada. Não sinto nada. Sou pó.
20090207
20090113
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